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Danielle Manzoli

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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Retaliação pode provocar represálias, adverte novo embaixador americano

Fonte: Valor Econômico

Sergio Leo, de Brasília

"Retaliações provocam contrarretaliações e isso não é bom nem para o Brasil nem para os Estados Unidos", alertou o novo embaixador americano, Thomas Shannon, ao informar que os EUA vão se esforçar na negociação com o Brasil para atender à decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC), que considerou ilegais os subsídios americanos ao algodão. O Brasil foi autorizado pela OMC a retaliar os EUA, aumentando tarifas ou até ignorando direitos de propriedade intelectual de empresas do país, caso não haja mudança nos subsídios ao algodão.
Shannon é a primeira autoridade americana a mencionar a possibilidade de "contrarretaliações" caso o Brasil, dentro das normas da OMC, adote represálias a produtos americanos. Mas o tom do embaixador, em sua primeira entrevista coletiva, ontem, logo após entregar as credenciais ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi de elogios e acenos aos Brasil. Ao mencionar o caso do algodão, ele classificou as negociações de "delicadas" e disse preferir que o tema seja tratado em detalhes pelo USTR, o equivalente a um ministério de comércio exterior.
Mais sério que o habitual e falando em português, Shannon evitou concentrar-se em temas específicos e insistiu que a relação entre Estados Unidos e Brasil "é mais que uma relação bilateral, é uma relação global". Sem descer a detalhes, discordou de uma lista de desentendimentos entre os dois governos apresentada por um jornalista, que incluía de Honduras à OMC, o Irã e a compra de caças para a Força Aérea. "Com qualquer país, especialmente entre países grandes e importantes, é inevitável encontrar pontos de divergência", minimizou, defendendo a relação entre EUA e Brasil como "aberta, flexível e respeitosa" e defendendo o esforço diplomático para resolver as divergências "sem afetar os pontos de convergência".
O diplomata, que até o ano passado era, nos EUA, o subsecretário do Departamento de Estado para o Hemisfério Ocidental, não se recusou a comentar a crise política na Venezuela e fez sugestões ao governo Hugo Chávez: "A Venezuela está passando por um momento difícil e, em um momento de crise, é preciso abrir espaço para o diálogo político", afirmou. Ele também pediu para Chávez "não reprimir e abrir espaço para ouvir o povo venezuelano".
Shannon elogiou o papel do Brasil nas negociações sobre o programa nuclear do Irã, tema geralmente apontado como ponto de conflito entre os dois países. Garantiu que ambos os governos mantêm "diálogo intenso" sobre o assunto e que o Brasil "teve papel importante" em comunicar aos iranianos a preocupação do Ocidente com o programa nuclear e o desrespeito aos direitos humanos. Ele se mostrou cético, porém, em relação à disposição do Irã para negociar e eliminar as suspeitas de uso bélico do programa nuclear.
Em uma das poucas perguntas sobre temas bilaterais, Shannon defendeu a oferta da Boeing para fornecimento de caças à Força Aérea Brasileira (FAB), mas foi enfático ao classificar a questão como um tema de "diplomacia comercial", sem risco de danos à relação política e diplomática dos dois países. "França e Suécia são amigos e aliados dos EUA", disse, citando os países dos concorrentes da Boeing, para argumentar que a escolha de outros jatos não afetará a relação de "cooperação e segurança" entre Brasil e EUA.
"É importante notar que o governo dos EUA tomou decisões sem precedentes em termos de transferência de tecnologia (para os caças da Boeing)", insistiu o diplomata. "Isso não é só diplomacia comercial, como mostra nossa confiança no Brasil."
Depois da entrevista, diplomatas americanos comentavam o pequeno número de questões bilaterais e a grande quantidade de assuntos internacionais como sinal de mudança no nível da relação entre os dois países. Como ressaltou, aliás, o próprio Shannon, ao começar a entrevista. "A relação entre Brasil e Estados Unidos é global, os dois países trabalham em assuntos que vão além do tema bilateral", afirmou.
Ele negou que haja atritos entre os dois governos em relação à ajuda humanitária e à reconstrução do Haiti, e disse acreditar que os países da região reconhecerão o presidente eleito de Honduras, Porfírio Pepe Lobo, um fato consumado, pondo fim ao isolamento a que o país foi submetido na Organização dos Estados Americanos (OEA) após o golpe militar que derrubou o antecessor, Manuel Zelaya.
Shannon, escolhido no início de 2009 para a Embaixada dos EUA no Brasil, teve de esperar quase nove meses até vencer a resistência no Senado, onde a oposição fez críticas às suas opiniões sobre Cuba, importação de etanol brasileiro e Honduras. Ao lhe perguntarem sobre a taxa mantida pelos EUA sobre o etanol do Brasil, desconversou, defendeu a cooperação dos dois países em etanol e desculpou-se: "Eu já tive problemas com isso." Ele começou ontem mesmo sua primeira missão diplomática: a preparação para a visita da secretária de Estado, Hillary Clinton, ao Brasil, possivelmente em março.

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