fonte: Valor economico
Por Marta
Watanabe | De São Paulo
Heloísa
Menezes, secretária de Desenvolvimento da Produção do Mdic, diz que os
critérios foram reformulados
Depois de
uma série de apertos regulatórios, o número de concessões do benefício do
ex-tarifário para a importação de máquinas e equipamentos caiu cerca de 70% no
primeiro quadrimestre. De janeiro a abril deste ano foram publicados 230
ex-tarifários para máquinas e equipamentos. No mesmo período do ano passado
foram 765 benefícios de mesma natureza. O ex-tarifário é um benefício que reduz
o Imposto de Importação no desembarque de máquinas e equipamentos sem produção
nacional. O incentivo reduz a alíquota do tributo de uma média de 14% para 2%.
Não foi só
a queda na quantidade de reduções tributárias concedidas que chamou a atenção.
Até o ano passado praticamente todos os meses havia publicação de benefícios.
Em março deste ano não houve nenhuma publicação e, em abril, apenas um
ex-tarifário foi concedido. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento da Produção
do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), a queda não se
deve a uma redução de demanda na solicitação do incentivo, mas à reformulação
na análise de concessão do benefício.
Representantes
de importadores acreditam que a redução se deve a um represamento na publicação
de benefícios já aprovados pelo Comitê de Análise de Ex-tarifários (Caex).
Importadores calculam que cerca de 250 ex-tarifários já aprovados pelo comitê
ainda não foram publicados. A demora, dizem, deve encarecer e desestimular
investimentos. Paulo Eduardo Pinto, diretor da trading Transaex, diz que a
demora na análise do benefício tem provocado alteração nas estratégias de
investimento.
"Para
as empresas que estão importando bens de capital com fim mais estratégico do
que tático, ou seja, como uma forma de marcar posição para o futuro, a compra
está sendo adiada", diz Pinto. No caso das mercadorias já prestes a serem
desembarcadas, argumenta, a solução tem sido desembaraçar a máquina sem o
benefício e fazer a instalação num segundo momento. O pagamento do imposto de
importação cheio, sem o benefício, diz o executivo, encarece o investimento
planejado, o que muda o cronograma de implantação das máquinas.
Heloisa
Menezes, secretária de Desenvolvimento da Produção do Mdic, diz que a
publicação dos benefícios tributários deve retomar o ritmo normal após a
primeira reunião do Comitê Executivo de Gestão (Gecex), prevista para a
primeira quinzena de maio. Ela diz que a aprovação pela Caex é apenas uma das
etapas do processo de análise de ex-tarifário. Os procedimentos incluem a
aprovação pelo Gecex e pela Câmara de Comércio Exterior (Camex).
"Estamos
terminando uma etapa de reformulação nos ex-tarifários, mas em breve
conseguiremos limpar o estoque e teremos a análise concluída", diz a
secretária. Segundo ela, alguns pedidos acabaram atrasando porque houve
necessidade de verificar com fabricantes de máquinas a real capacidade de
produção dos bens em estudo. Heloisa diz que ferramentas de análise, como a
investigação da capacidade nacional de produção e a consulta pública, por
exemplo, "já eram aplicadas, mas agora estão sendo mais utilizadas".
A queda no
número de benefícios concedidos acompanhados vem depois de mudanças divulgadas
pelo Mdic no processo de análise do ex-tarifário. No ano passado, o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) passou a integrar o
processo para concessão do incentivo fiscal, o que ampliou o tempo de análise.
Em fevereiro, um benefício concedido para uma combinação de máquinas na
alíquota de 6% - e não na alíquota usual de 2% - chamou a atenção dos
importadores. A alíquota maior resultou de uma análise mais cuidadosa de cada
componente que integra a combinação de máquinas. Se um dos componentes tiver
produção nacional, deve ser aplicada alíquota proporcionalmente maior, segundo
informação do Mdic. Uma resolução do início de abril também trouxe nova
alteração. O benefício não é mais concedido para sistemas integrados.
O advogado
Rogério Chebabi diz que, com a demora, a orientação para os clientes é de
desembaraçar o bem e depois procurar o Judiciário. "Caso o ex-tarifário
seja concedido depois da nacionalização do bem, é possível levar o assunto à
Justiça para pedir a aplicação da redução. É preciso, nesse caso, provar que o
benefício foi solicitado para a sua importação", defende. "Muitas
vezes a empresa desembaraça a máquina porque tem um cronograma de investimento
ou porque o custo de armazenamento do bem é muito alto."
Paulo Eduardo Pinto, da Transaex,
diz que as medidas de revisão na concessão do benefício são bem-vindas.
"Nós somos favoráveis a ajustes na ferramenta, mas a preocupação precisa
ser mais qualitativa, e não quantitativa. No afã de se proteger a indústria
doméstica, está se prejudicando o investimento e a própria indústria de
transformação."
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