FONTE: A TRIBUNA
http://www.atribuna.com.br/noticias.asp?idnoticia=55010&idDepartamento=10&idCategoria=0
Sexta-feira, 10 de setembro de 2010 - 06h34
Diogo Caixote
O que acontece quando há movimentação portuária crescente, carga represada por conta de um feriado prolongado, falta de infraestrutura e obras na pista? Um congestionamento monstro! Nesta quinta-feira, os quatro fatores se somaram, arrastando filas de caminhões do Porto de Santos à Via Anchieta, por pelo menos oito quilômetros de extensão. E, segundo alguns empresários, o problema deve perdurar até amanhã.
Desde o início da manhã desta quinta-feira, o movimento de carretas em direção ao complexo já prenunciava o caos no único acesso rodoviário ao complexo. O pico das filas ocorreu por volta do meio-dia, partindo da região do Saboó, onde há um afunilamento, até o Km 64 da Anchieta.
Conforme a Ecovias, concessionária do Sistema AnchietaImigrantes (SAI), entre 11 mil e 12 mil carretas eram esperadas para descer a serra em direção à Baixada Santista ontem. Em média, o Porto recebe 5 mil caminhões por dia.
O número excessivo de veículos foi causado pelo represamento de cargas durante o feriado prolongado, da Independência (na última terça-feira) e de Nossa Senhora do Monte Serrat, Padroeira de Santos (na quarta), quando tradicionalmente as operações no cais são reduzidas.
Além disso, a Prefeitura de Santos está realizando a última fase da obra de drenagem e de pavimentação da Rua Alberto Schweitzer, na Alemoa. A interdição do trecho, na direção do Viaduto da Alemoa a ligação entre a estrada e o cais fez o trânsito do distrito industrial e portuário ser desviado também para a Avenida Augusto Barata, o Retão da Alemoa, colaborando para o tráfego estourar na Anchieta. A obra deve terminar só no próximo dia 18.
A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de Santos e a Guarda Portuária chegaram a enviar agentes para coordenar o tráfego na região. Para percorrer todo o trecho congestionado, o motorista levava ontem em torno de duas horas. Em dias normais, o trajeto é feito em até 20 minutos.
O autônomo Marco Aurélio Silva veio de Londrina (PR) para descarregar um contêiner em um dos terminais do Saboó. Chegou na fila às 11 horas. Em contato por telefone com A Tribuna, às 14 horas ele ainda não tinha chegado ao ponto de entrega.
Terminais
O motorista da transportadora Translogiste Mauro Mendonça Costa reclamou da falta de alternativas. "Só uma entrada para o maior porto do País é inadmissível. Portos menores, sem importância alguma para a economia, têm condições melhores".
O problema atingiu também os terminais. Na Alemoa, as instalações deixaram de receber metade dos caminhões por causa do congestionamento. Na Stolthaven, as entregas caíram 70%. Segundo o diretor geral da unidade, Mike Sealy, por dia são recebidos 250 caminhões. Até as 16 horas de ontem, só 50 conseguiram chegar à unidade.
"Não entendo a visão de infraestrutura dos governos do Estado e Federal, que não conseguem dar uma solução para normalizar a infraestrutura de acesso ao seu maior porto", reclamou Sealy.
Há anos,empresárioseautoridades cobram a realização de investimentos para ampliar os acessos ao cais. Entretanto, o Governodo Estado insiste que a matriz de transporte precisa ser melhor distribuída, transferindo as cargas para ferrovias e dutos.
Empresários defendem "operação emergencial"
Os "dias negros" nos aces- sos ao Porto de Santos, conforme previam empresários e sindicalistas, se confirmaram. E, para aliviar a pressão nas vias locais, eles apontam medidas emergenciais, sem esquecer que os investimentos em infraestrutura e a otimização da logística são as soluções definitivas para este problema.
Os dirigentes portuários avisaram, antes do congestionamento, que na véspera e no retorno dos feriados, o tráfego teria problemas. Na última segunda-feira houve congestionamento, porém de menor proporção. Na quarta, a região registrou tráfego intenso nas rodovias e ontem, as filas reapareceram.
Os problemas se acentuaram por conta do envio represado de cargas ao cais, devido aos feriados. E mais: obras nas vias internas do Porto afunilaram o trânsito, complicando ainda mais a situação.
Soluções
Segundo o consultor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) em Cubatão, Ricardo Lascane, só obras de novos acessos e a responsabilidade dos usuários do Porto vão resolver o problema. "Mas não dá para ficar esperando por isso. Até mudar o governo, fazer projetos e estudos, obter licenças, licitar a obra e iniciar as construções leva tempo. O que dá para fazer é operação emergencial", disse.
Lascane defendeu que, de imediato, a Codesp passe a multar os usuários e os operadores que não programam o envio de suas cargas. A medida é uma determinação do Conselho de Autoridade Portuária (CAP).
O presidente da Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Empresas Transportadoras de Contêineres (ABTTC), Martin Aron, afirmou que obras são essenciais. Entretanto, para ele, é inevitável agir rápido para controlar o tráfego. "Infelizmente, aconteceu o que prevíamos. O que resta é traçar intervenções que ajudem a melhorar urgentemente. A CET precisa ter uma atuação mais orientativa na região portuária", apontou.
O presidente da Associação das Empresas do Distrito Industrial e Portuário da Alemoa (AMA), João Maria Menano, insistiu nos investimentos. Ele listou duas opções, antigas, mas que nunca saíram do papel. "A primeira é mais barata, a transposição da linha férrea para ter um novo acesso à Alemoa. A outra é mais cara, e definitiva. Mas o Estado precisa colocar dinheiro, que é construir um binário com viaduto na Anchieta e na Alemoa".
Na visão do diretor da Associação Brasileira de Terminais de Líquidos (ABTL), Mike Sealy, é necessário que os governos repensem a logística de acesso ao Porto de Santos. Para começar, ele sugeriu a criação de bolsões nas rodovias locais, para ordenar o fluxo de cargas para os terminais portuários.
"As obras têm que ser feitas rapidamente. Enquanto isso, tem que ser dado um jeito de controlar a logística, para não sofrermos mais desse jeito, como hoje (ontem)", disse Sealy. E emendou: "Se nada for feito, o Brasil vai perder o momento exuberante que está passando agora".
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